Asas suplentes
(imagemretirada da net)
Esperei pacientemente até que a casca se assemelhou a um conjunto de teias de aranha. Um rasgão aqui, uma rachadura acolá. Comecei a ver uma penugem amarela. Primeiro apenas num minúsculo buraquinho e depois, mais e mais, até distinguir uma cabecinha e um lindo bico alaranjado. Era um pequeno ser com lindas asas. Podia voar, cruzar os céus e fazer as mais elegantes piruetas. Foi isso que lhe desejei, foi assim que o vi.
O tempo passou e os voos iniciais começaram por ser logos, mas paulatinamente encurtaram de distância. Todos os dias alguém lhe cortava um pedaço de asa. Tentava voar e caia. Um dia desistiu de voar e foi infeliz.
Voltei a vê-lo encolhido debaixo de uma casca. Desta vez não via teias de aranha e a casca estava muito dura. Tive de lhe ensinar que todos temos um par de asas suplentes. Essas asas ninguém vê e nem corta. Somos os seus únicos senhores e percorrer os céus ou caminhar nas montanhas depende apenas de nós. Ele percebeu e escancarou, uma vez mais, a sua cortina. Voava de novo, ou começava a voar.