Diário de Um AVC
Passam hoje dois meses desde que a minha mãe teve um A.V.C. Aos poucos vai recuperando algumas das capacidades perdidas, mas ainda há muito por fazer. Parece-me que nunca me tinha sentido tão impotente e ao mesmo tempo tão sozinha. A minha família, que não acompanha o dia- a- dia, não percebe como por vezes é difícil vermos uma pessoa que amamos a não conseguir fazer as coisas mais básicas e tornar-se tão dependente. Nunca tinha sentido o que é ter alguém tão dependente de mim. Tenho medo de adormecer e não ouvir o seu chamado, tenho medo de ir à rua e que me aconteça alguma coisa, sei lá... tenho medo.
Pode parecer um pouco exagerado mas tenho a certeza que todos os cuidadores, percebem o que eu estou a dizer.
Quando falo com os meus amigos sinto que eles não sabem o que me hão-de dizer e acabo por me fechar poruque eu não lhes consigo explicar o que estou a sentir e como era importante que se lembrassem de mim todos os dias e que me ajudaria que dissessem apenas: olá! e tem força!
De qualquer forma sinto, por vezes, que a força me falta e ouço aqueles comentários do tipo: Estás a deixar de viver a tua vida, para cuidares da tua mãe. Mas depois penso: mas a minha vida também é ela. Será que as pessoas não percebem ? Será assim tão errado o que faço?
Depois vejo a minha mãe a agarrar-se à vida e à sua recuperação e parece, de repente, que tudo vale a pena.
Cada vez dou mais valor às pessoas que dedicam a sua vida a cuidar dos outros. Haverá postura mais nobre?
Deixo um pensamento de solidariedade a todos os que estão nesta situação.