Frascos sem tampa
(imagem tirada da net)
A avó pegou no frasco vazio do doce, que estava em cima do armário da cozinha, e fazendo um sorriso maroto quase o enfiou no balde do lixo que estava perto da porta. O coração dela tremeu e as lágrimas quase a visitaram, mas a avó virou-se e entregou-lhe o frasco. - Um frasco mágico e sem tampa, disse. Ela abriu muito osolhos e presenteou a avó comum belo sorriso.
Levantou-se, com um saltinho, e saiu para o alpendre batendo devagar, com a porta.
Não sabia explicar porquê, mas gostava de frascos desde que se conhecia. Neles guardava tanta coisa, mesmo coisas que não existiam. Muitas vezes, quando lhe perguntavam, dizia que os frascos serviam para capturar pedacinhos de passado porque o futuro, esse era esguio como uma enguia e nunca conseguia tê-lo.
Mas tinha os sonhos de futuro, aqueles que lhe permitiam ver estrelas nos frascos e vento a dançar por entre as paredes de vidro.
Cada frasco era especial, porque cada um deles guardava cheiros, sons e sabores. Neles havia cores, havia movimento, mas também existia vazio e silêncio. Alguns estavam tão cheios que ela tinha dificuldade em os manter quietos, outros estavam quietos demais e por muito que os abanasse dali apenas recebia quietude.
Todos os frascos estavam tapados e lá dentro tudo vivia numa espécie de prisão, mas o frasco de hoje não tinha tampa e ela percebeu que tudo o que lá colocasse ficaria sempre solto. Ao início preocupou-se; franziu o sobrolho e pôs- se a mirar o frasco, uma e outra vez. Lembrou-se das palavras (da avó) e percebeu que os frascos mágicos não podem ter tampa, nem os sonhos podem ficar fechados. Procurou todos os os outros frascos e uma a uma todas as tampas foram atiradas para longe fazendo um som estridente e metálico quando tocavam no chão. As fechaduras estavam quebradas...