O assobio e a paz
(imagem retirada da net)
Olhou para cima e escutou encantado como quem ouve uma melodia desconcertante.
Via os ramos do carvalho a balancear e o vento rodopiava à volta deles de si. Não estava triste, nem contente, mas sentia-se evadido por uma serenidade pulsante. Colocou as mãos nos bolsos e sem saber como o fez, começou a assobiar e a acompanhar a melodia que se ouvia. Deu por si envolvido numa competição de trinados e assobios, de ventos e sopros e não pode deixar de sorrir.
Encostou-se no tronco rugoso do carvalho e imaginou as pessoas que ali teriam estado. Sentiu-se no meio delas. Ouviu-lhes as conversas, adivinhou-lhes os gestos, viu-lhe os passos. Tudo passa demasiado depressa, pensou ao mesmo tempo que retomou os assobios. Olhou o fato preto que o pai lhe tinha dado e achou-se elegante. Era magro, mas bem constituído e hoje estava ali, a assobiar, por debaixo de um carvalho porque queria muito estar perto de si. Desejava encontrar a paz que todos os dias os diálogos e as palavras lhe surripiavam. Lá dentro, no fundo de si, estava um sopro engaiolado que ansiava muito por tornar-se audível tornando-se parte de uma melodia.