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Fashion in the bag

Fashion in the bag

23
Jan17

Os botões e os sonhos

fashion

 

Acordava cedo, por vezes ainda com a lua como companheira. A mãe preparava-lhe o pequeno almoço e aquecia-se no falecimento dos paus que crepitavam entusiasticamente. Depois era  a caminhada para a escola, pelas ruas empedradas e vestidas de cinzento.

Quase sempre encontrava amigos pelas ruas, porque as calçadas eram completas por gentes e animais.

Mas o que guardava mais, desses dias, era quando a escola acabava e ela corria para a loja do Sr. Fernando. Todos os dias havia coisas para comprar e quando não havia a mãe inventava a falta de um quilo de farinha ou de arroz só para que ela pudesse ir lá, porque sabia que era o que ela mais gostava. A loja tinha tudo, mas literalmente tudo. Desde as coisas mais básicas de comida, ao bacalhau, ao enchido, a botas, a porcelanas, a livros, a ferramentas e imagine-se até, caixões e petróleo. Naquele tempo ir à loja do sr. Fernando era como ir a um centro comercial, mas com um bónus: cada vez que via crianças; o Sr. Fernando, oferecia, sempre, uma pastilha ou um rebuçado. Escusado será dizer que a loja estava sempre cheia de crianças, que por vezes iam lá várias vezes não fossem os rebuçados acabar e eles ficarem sem nada. Para ela, para além dos rebuçados estavam os livros que, mesmo sem os comprar, conhecia de trás para a frente.

Ficava no cantinho, pegava em vários, a fazer de conta que a decisão da escolha era muito difícil e ia lendo o que por ali encontrava. No final ganhava sempre o quilo da farinha e do arroz e era esse que a acompanhava até casa. Um dia a mãe precisou de botões e ela prontamente se ofereceu para ir à loja do Sr. Fernando, descobriu nesse dia que a loja tinha um sótão e que, para além de tudo o que lá se vendia ainda tinha uma espécie de antiquário que habitava nesse sótão.

Teve dificuldade em escolher os botões, porque havia tantos e tão bonitos que pediu à Josefina(funcionária da loja) que a deixasse ficar ali um bocado para que pudesse escolher melhor. Nesse dia viveu histórias antigas contadas pelos vestidos pendurados nos armários, conheceu outros países nos mapas que estavam enrolados num canto sombrio, descobriu que podia ser quem quisesse, desde que sonhasse. A caixinha de costura, da mãe, passou a estar repleta de botões e durante muito tempo encontravam-se botões por toda a casa. 

 

 

 

 

 

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