Os livros e as ideias genuínas
(imagem retirada da net)
A mesa estava vestida de cores delicadas e gulosas. Todos sentados faziam navegar as palavras por entre o barulho dos pratos e talheres. Ela estava sentada num banco largo e sorria sempre que alguém lhe perguntava a opinião, mas quando respondia fazi-o sem energia, mais por educação e sentido de dever que por convicção.
As gargalhadas pulavam de boca em boca e ela sentia-se perdida no meio de conversas que não eram dela e ideias que no seu âmago abominava. Desejava que tudo acabasse para se poder refugir no seu livro e num tempo seu. Olhava para trás à procura da altura em que preferia os livros à pessoas, pensava em momentos, em pessoas, mas não conseguia lembrar-se, o momento exacto, em que preferia a quietude e as histórias partilhadas pelas folhas brancas repletas de ideias e sensações ao invés do som estridente de ideias vazias e palavras vítreas. Percustrava no olhar dos que o rodeavam, tentava ler-lhe a verdadeira essência, aquela que não mostravam. Demorou-se nesta indagação e sorria porque via coisas e más, surpreendentes e assustadoras. Preferia o livo, pensou, por fim. Levantou-se, ajudou a arrumar a loiça e saiu, sorrateiramente, de volta para o seu livro e para as ideias genuínas que ela sempre preferia.