Os nadas e os encontros...
(imagem retirada da net)
Abriu a porta do carro e entrou. O som rouco do motor fez-se ouvir e ela começou a cruzar ruas, e as luzes por vezes fortes faziam-na semicerrar os olhos. Conduziu sem rumo. A condução deva-lhe uma sensação de controlo que ela precisava, agora. Nas ruas desertas viu mendigos com caras tranquilas e miúdos que voltavam iludidos dos bares. Ouvia, ao longe, pedaços de músicas, sons soltos que a confundiam. Outros carros apressados passavam ao seu lado e as pessoas olhavam em frente, alheias, com expressões perdidas ou desfocadas. Outras falavam e apontavam.
Durante o tempo que passava pelas ruas, vinha-lhe ao pensamento todas as pessoas que não conhecera e que já deviam ter cruzado as mesmas ruas, em outras épocas, em outras horas. Quase lhes ouviu os passos e viu os contornos de rostos que estiveram e já não estão. Imaginou vestidos compridos e risos envergonhados.Viu namoricos de esquina e janelas de manjericos.
Fez a curva à direita e depois da descida os seus olhos navegaram por entre as águas calmas do mar. Rodou a chave, parou o carro e saiu, deixando a porta aberta atrás de si. A noite estava luminosa, sem ninguém, e ela estava no meio do nada. Mas nunca um nada é um nada, porque mesmo os nadas e os vazios estão sempre cheios. O nada dela era a tranquila calma de quem, finalmente, se tinha encontrado. Sentou-se perto da água, naquela escada em que a lua também está, e sorriu.