As tesouras e as traições...
Quando penso em tesouras a minha mente direcciona-me quase, automaticamente, para o Eduardo mãos de tesoura.
Para quem não se recorda esta estória fala de um ser diferente. Alguém cuja diferença é mais do que um par de tesouras no lugar de um par de mãos alguém, mais humano que muitos humanos, que se exprime fazendo esculturas de gelo. Fala de alguém que magoa a pessoa que ama quando tenta demonstrar aquilo que sente...
Esta é a visão ideal das tesouras: aqui elas são utilizadas, por Eduardo, para construir e para criar, embora magoem a verdade é que o fazem sem intenção.
Eu tenho uma ideia menos romanceada das tesouras. Há muito que associo tesouras a cortes, a dor e a desilusão. A tesoura esventra a fita que nos une a quem gostamos e constrói cicatrizes fundas. Tão fundas que por vezes nenhum curativo pode ser feito.
Muitas vezes as tesouras são utilizadas apenas por cobardia, unicamente porque as pessoas não são capazes de olhar nos olhos e dizer o que sentem. Cortar com tesoura é mais fácil do que falar. Com as palavras ferimos directamente, com as tesouras o corte não é visível e é dissimulado. Sente-se, mas raramente se vê (até porque o sangue esconde a ferida).
Cortar com palavras requer muita coragem, porque por vezes podemos ser confrontados com os medos, que existem, mas que não conseguimos verbalizar. As lâminas das palavras vão saindo e entrando na pele e sentimos tudo, tudinho.
É preciso muita coragem para falar, é necessário uma enorme cobardia para cortar.
Encontrei o Eduardo, combinamos que lhe vou substituir todas as tesouras. Em vez de pontas cortantes vou-lhe oferecer tesouras de pontas redondas: continuam a cortar, mas ele não vai magoar mais ninguém.
Gostam de tesouras?