Uma madrugada forçada...
(imagem retirada da net)
Madrugada Forçada
Nada se ouve. Lá fora a cidade vive entorpecida pela noite que a envolve, fazendo crer que a madrugada tarda em chegar. Ele gostava destas horas em que o silêncio o rodeava. Podia pensar, sobretudo podia ser ele sem se preocupar com mais nada. Sentou-se na mesa que estava em frente à janela e acendeu o candeeiro que estava em cima dela.
A sala encheu-se de uma luz amarelada e doentia que contrastava com a pouca luz que a rua oferecia. Tirou uma folha da gaveta e escreveu duas ou três linhas, sem nexo, mas que ele sentiu necessidade de colocar no papel. Acendeu um cigarro e o fumo fé-lo semicerrar os olhos. Na sala havia, agora, uma névoa de fumo, um silêncio perturbado e uma madrugada forçada.
No entanto, naquele espaço estava alguém que aproveitava a noite, o tempo em que os outros não estavam para ser quem, de facto eram.
Leu duas páginas de um romance inglês e sorriu. Gostava de ler romances porque se divertia sempre. O culto de uma vida perfeita e rósea... Suspirou, não tinha sono e o dia estava, para ele, no auge. Voltou a escrever, desta vez com mais convicção e com demora. Quem o visse teria a impressão de que papel e homem se tinham fundido e que agora eram apenas um. As palavras devoravam-no ou faziam-no nascer...