Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.
Parece óbvio que o Ano Novo seja no dia primeiro de Janeiro, mas na realidade essa data só se consolidou, na maioria dos países, há mais ou menos 500 anos. Dos calendários babilónicos de 2.800 a.C. até ao calendário gregoriano, a passagem de ano mudou muitas vezes de dia.
A primeira comemoração que tinha a conotação de “Festival de Ano Novo” foi na Mesopotâmia por volta de 2.000 a.C. A festa começava sempre na lua nova do equinócio da Primavera, em meados de Março. Os Assírios, Persas, Fenícios e Egípcios celebravam o início de um novo ciclo no dia 23 de Setembro, e os Gregos no 21 ou 22 de Dezembro.
Os romanos foram os primeiros a estabelecer um dia no calendário para a comemoração da passagem de ano, lá por volta de 753 a.C. Para eles, o ano começava no dia um de Março. A data só foi trocada em 153 a.C para primeiro de Janeiro. Em 1582, a Igreja consolidou esta “escolha” no calendário gregoriano.
Ainda assim, até hoje, alguns povos e países comemoram o Ano Novo em datas diferentes– como a China, que gosta de celebrar entre o fim de Janeiro e começo de Fevereiro. A comunidade judaica também tem outro calendário: a festa ocorre em meados de Setembro ao início de Outubro. Para os islâmicos, o Ano Novo é celebrado em meados de Maio.
Ele entrou vagarosamente, arrastou a pesada cadeira de madeira e sentou-se. Pos-se a rasgar a folha de um calendário que estava em cima da bancada: era a última página(mas podia ser a primeira, ou a do meio). Passou mais um ano, pensou.
Levantou-se, os movimentos presos e demorados pareciam querer agarra-lo ao momento, aquele momento. Mas tudo tem um fim, mais tarde, mais cedo, tudo termina...
Puxou a mala que estava no cima do armário com vidros, abriu-a e colocou um relógio grande, com estrelas à volta, algumas camisolas e fechou-a. Olhou em volta, suspirou e continuou a arrastar os pés em direcção à rua. Abriu novamente a mala à procura do relógio. Está quase na hora, pensou.
Está na hora de abandonar os dias que passaram sem que se desse conta, os segundos em que via a lua e que se esquecia de quem era, os minutos em que o mar o olhava de longe. Este é o momento de deixar...
O tempo não parou, e o que foi não será o mesmo, mas em cada fecho existe a oportunidade de começar tudo de novo, de ser melhor, de ser pior, mas acima de tudo de tentar. Renovar as esperanças, acreditar nos sonhos e nunca, mas nunca desistir.
Saiu para a rua, a noite estava fria e estrelada. Ao longe ouvia-se um choro apressado e cândido, tudo nasceria(de novo).
Estava a ler um post de um blogue sobre um livro (A longa Marcha dos Grilos Canibais) e fiquei curiosa não apenas pelo título, mas também pelo tema: percebi que era um livro composto por várias crónicas que vão desde assuntos científicos, passando por vários temas como a psicologia, a antropologia e a história. A crónica que dá título ao livro tocou-me profundamente. Não pelo aspecto biológico, de os grilos caminharem, morrerem e serem comidos por outros grilos, mas porque vi nesta marcha(dos grilos) a caminhada da humanidade. Estou como o Heidegger dizia : "o homem é um ser para a morte" não podemos fugir disso.
Deixando o aspecto tétrico da questão é um livro que aconselho muito mesmo e como disse aborda temas muito interessantes. Para vos aguçar o apetite deixo uma pergunta que é respondida no livro. Há algum ser que seja capaz de viver sozinho? O que vos parece?
Penteou-se devagar ao mesmo tempo que olhava a sua imagem reflectida no espelho. Alisou a saia e beliscou as bochechas porque se achava demasiado pálida. Percorreu devagar todos os cantos da casa e em todos eles encontrou uma voz ou uma estória, em cada passo sentiu as mãos do pai pousadas nos seus ombros.
Abriu gavetas e olhou fotografias sentido-se, em cada movimento, dividida em vários momentos, via-se pequena com os livros na mão, mais velha com os vestidos espalhados na cama e já adulta com muitos tijolos à volta. Pegava neles, nunca sabia se havia de construir muros ou escadas, se os havia de pintar ou deixa-los como estavam. Cada tijolo uma decisão, uma escada, ou mais um passo para a parede. Uns dia estava determinada a fazer escadas, comparava flores que as haviam de ladear. Outro fazia muros, com ferro do mais forte que encontrava. Nunca nenhuma parede estava construida, nem escadas. Vivia nesta dimensão que oscilava entre paredes e escadas até que descobriu que meias escadas e meios muros de nada serviam. Decidiu fazer canteiros, com os tijolos, e plantar hortênsias. Resolveu mostrar-se tal como era, sem tijolos e no quintal mais florido que algum dia existira.