Olhava o vasto céu, pintado em tons de azul, quando uma gaivota elegantamente o atravessa e me faz pensar no simbolismo daquele pequeno ser. É claro que, como ave, sabia que ela simboliza a liberdade e é uma espécie de intermediária entre o céu e a terra, mas desconhecia a lenda que a envolve e que agora aqui partilho.
Ao que parece, segundo os índios colombianos Liloet as gaivotas tinham, guardado numa caixa a luz do dia e essa luz era exclusivamente para o seu uso. No entanto, pensando no benefício que a luz traria para a humanidade, o corvo - que, entre outras coisas, representa a astúcia e a esperança - intentou e conseguiu roubar a caixa que a gaivota guardava com tanto zelo, o que deu origem à luz de que usufruímos hoje.
Ainda para o Xamanismo a gaivota é evocada para a busca da tranquilidade em detrimento de tudo o que impede as pessoas de se sentirem livres.
Tinha tudo decidido e tão bem delineado. Acabou de arrumar a cozinha, regou as plantas da Sala(uma orquídea e uma violeta) e sentou-se com uma chávena de chá quente nas mãos. Olhou os livros arrumados, o tapete felpudo e viu-se a viajar para abraçar o seu novo trabalho. Suspirou, o gato passou e enrolou-se-lhe nas pernas. Levantou-se e o fio do telefone enrolou-se nos pés. Nunca mais conseguiu andar. Pensava naquele dia, mas estava numa sala comprida, branca e com pessoas à volta, muitas pessoas. Ouviam-na contar que estava feliz, ouvia-se a si própria dizer que estava feliz. Custava-lhe a acreditar,mas estava. Não tinha feito aquela viagem, já não tinha o tapete felpudo, mas tinha desenvolvido a arte da oratória e dizia aos outros que a vida é como um casaco. Quando o compramos, está direitinho e imaginamos os passeios e o aconchego que vamos sentir ao vesti-lo. Mas um pequeno rasgão faz com que o casaco tenha de ser colocado do avesso. A vida tantas vezes só faz sentido quando está do avesso, quando olhamos para as nervuras do tecido e percebemos que são caminhos que temos de andar. Quantas e quantas vezes o tecido interior é mais bonito do que o exterior? A vida é percebermos que podemos sempre ser felizes com o avesso e que, por vezes, isso é mesmo o que necessitamos.
Despediu-se de todos e empurrou as rodas da cadeira até ao carro. Estava cansada e feliz. O casaco estava do avesso, o lado certo.
Vestiu apressadamente o vestido azul. Gostava dele, porque tinha sido a mãe que o tinha feito e assentava-lhe bem no peito e no pescoço e dava-lhe um ar distinto. Passou a escova no cabelo longo e colocou uma flor entre a orelha. Todos lhe diziam que era bonita e elegante, mas ela não o sentia ou melhor desejava senti-lo, mas sabia que a sua beleza estava mais fundo do que no vestido, no cabelo ou no rosto. A beleza, a sua, estava no fundo do mar. Submersa, invisível a beleza era uma coisa que não se conseguia quantificar ou descrever com exactidão. Navegava por entre as algas, passeava-se por entre grãos de areia e vivia da água e do sol que conseguia avistar. Era tão diferente a sua beleza das outras belezas, a sua beleza era única, pesada por vezes, mas que dançava por meio das ondas e que procurava sobreviver aos ventos que por vezes dormiam nas águas.
Pegou no saco com asas e enfiou o porta moedas por entre o tecido. O vestido dançava ao ritmo dos seus passos e enchia as ruas por onde ela entrava. A sua beleza continuava na água; na rua, no vestido e no cabelo, mas a sua beleza estava, sobretudo, onde não estava. Na singularidade que a perpassava como setas, nos defeitos que tinha e que a tornavam única, mas acima de tudo estava no coração que não se via, mas que pulsava ininterruptamente por cada pequena coisa que era a sua vida. Era bela, sem dúvida.
Há muito tempo que via estas folhas, especialmente na arquitectura, e nunca soube o que simbolizavam. Desta vez lá fui à descoberta e aqui vos deixo o resultado da mesma.
O acanto é uma folha muito utilizada nas ornamentações desde os tempos antigos e medievais. Adornava capitéis, túmulos e até mesmo roupas. Porém, o seu simbolismo não provém de suas belas folhagens e sim dos espinhos da planta. Devido a esta característica o acanto simboliza o triunfo, a vitória de quem soube vencer os espinhos, a vitória sobre as provações da vida e da morte. Simboliza também a terra virgem ou a própria virgindade(uma outra espécie de triunfo). Quem estiver adornado com esta folha venceu a maldição bíblica:O solo produziu para ti espinhos e cardos (Génesis,3,18), no sentido de que a provação vencida se transformou em glória. Vamos todos apanhar acantos?