Há uns dias tinha falado deste escritor mexicano(Juan Rulfo) a propósito de outro conto dele( Pedro Páramo) e da surpreendente descoberta dos textos e do escritor. Como gostei do primeiro acabei por ler outros contos onde estava este Galo de ouro. Inúmeras coisas me ocorrem agora que terminei a sua leitura, mas a única que de facto que me parece pertinente é o pensamento que, de alguma forma, me faz lembrar a Pérola do Steinbeck, porque da mesma forma que o Ruanito se afastou do essencial porque possuía uma pérola, também o protagonista desta história se perdeu no destempero do lúdico, da ganância, mas de uma forma intimista e que nos faz pensar seriamente, nas prioridades da vida, na valorização do que não é valorável; no vazio ,no sentido, na vida, na morte. Em suma: no Ser Humano.
Saiu pela janela próxima do telhado e sentou-se com as pernas cruzadas em cima das telhas vermelhas. Em frente tinha o que sempre vira, sem ver. As montanhas majestosas e esverdeadas, as árvores longínquas, o esvoaçar das rolas que emolduravam a pequena tela por onde olhava. Sentia-se tão longe do que ela era, tão longe de si. Fechou os olhos por um breve instante e sentiu nas pálpebras a luminosidade do Sol que insistia em a acompanhar. Pensou em todas as coisas que quis tanto e que agora não faziam o menor sentido.
Ao longe ouvia músicas vivas e presentes(tão presentes), que pareciam transporta-la para outros dias e lugares diferentes. Via rostos, comidos pelo fumo que nunca fora dela. Uns sorriam, contentes, outros estavam tristes e amedrontados.
Todos procurando por coisas cujo sentido desconheciam, com exactidão. E os dias correram, os rostos desfilaram e tudo girou ao ritmo de uma música, de várias músicas, como se tudo fosse uma enorme roda, certeira e impiedosa. Um cão passou e o movimento do seu corpo fe-la abrir os olhos. As rolas bateram, uma vez mais, as asas. Tinha de se encontrar de novo, iniciar a procura e vasculhar em si o que, realmente, era seu.
Nos últimos dias tenho pensado no número absurdo de pessoas que conheço e que estão a passar, ou já passaram, por depressões. A maioria delas têm (felizmente) a capacidade tanto económica, como de discernimento para procurar ajuda e tratarem-se.
No entanto, não é fácil identificar uma depressão e actualmente tende a confundir-se a tristeza com depressão. É o mundo da felicidade forçada e da ingestão dos comprimidos da felicidade este, em que vivemos.
Alguém que perdeu quem ama, tem de estar triste, é normal, é humano e só seria estranho era se isso não acontecesse. Quem está desempregado, doente, tem de estar triste, não há vergonha nisso. E não são os comprimidos que resolvem estes estados de alma. A resolverem alguma coisa é apenas o proporcionarem a ilusão que o fazem.
Dizia Schopenhauer que: “Precisamos em todas as épocas de uma certa quantidade de desvelo, sofrimento ou carência, como um navio precisa de lastro para manter seu curso correto.” A tristeza é, por conseguinte, algo inerente ao ser humano e necessária para se atingir profundidade interior. Claro que é melhor estar feliz e alegre, mas nenhuma felicidade dura sempre, até porque há tristeza na felicidade(ou para se atingir a felicidade). Mas a sociedade não está preparada para isto. Ninguém tem paciência para pessoas que estão tristes, que choram... dá trabalho estar triste, e é uma embate muito grande consigo próprios.
Queremos apressar as coisas, queremos colocar LOL em todas as notícias, imagens e fotos, queremos mascarar a tristeza com caras de falsa felicidade. É mais fácil.
Um comprimido que dê alegria e não permita a tristeza parece, à partida, a solução ideal, mas será mesmo?
Não deviam as sociedades e todos nós procurar outras soluções que não apenas a dos comprimidos? Não se devia entender a tristeza de outra forma?