Sentou-se com esforço na sala de espera, onde uma dúzia de pessoas aguardava. Percebeu no momento em que olhou para os pés e viu uns sapatos quase novos (apesar da idade que tinham) que tinha passado os últimos anos à espera.
Não sabia bem o que esperava, mas sabia que esperava. Levantou os olhos e encantou-se com uma pena de pássaro que dançava contra o vidro da janela. Lembrou-se dos tempos de menina, na aldeia, em que conhecia de olhos fechados todos os pássaros e os seus nomes. Ouviu-se a sorrir e a correr para ver em que árvore eles iam pousar.
Nessa altura não havia esperas porque havia tanto para saber e para descobrir que esperar era matar o conhecimento. Mas o conhecimento nunca cessa, por isso porquê esperar ao invés de descobrir, pensou. Alguém pronunciava nomes, apenas nomes e ela continuava a admirar a dança da pena, que nesta altura lhe parecia de pardal. Mexeu-se na cadeira, cansou-se de esperar.
Sem saber a razão encaminhou-se para a rua e colocou a mão na janela. A pequena pena descansou na sua mão.
Tinha de descobrir a que pássaro pertencia. Era urgente voltar a ler os seus livros, deixar a espera e entregar todas as penas ao bailado dos vidros.
A maioria das pessoas considera-se invejada e não invejosa. Inveja é incapacidade de reconhecer as nossas falhas e se concentrar no outro. A inveja é dolorosa porque é o reconhecimento indirecto de alguém que eu invejo e isso é doloroso reconhecer. Ser feliz com a felicidade alheia é um grande desafio.
É natural que sintamos inveja,mas temos de controlá-la. Tudo o que notamos no outro é o que nos falta e é um espaço de vazio que temos de ser nós a preencher. Sempre o outro tem e contém o que o nós não temos e contemos.
Temos tendência a comparar-nos e não a conhecer-nos. Devemos procurar-nos e não procurar nos outros o que pensamos querer. Olhar para nós mesmos é como olhar a medusa e tornamo-nos pedra. A única forma é olhar para a medusa é através do espelho(dos outros)porque temos medo de enfrentar a pedra e de nos conhecermos a nós mesmos. A única forma de sermos felizes é não procurarmos fora de nós o que temos em nós. A inveja é, sem dúvida um fracasso do ser humano.
Olhou para cima e escutou encantado como quem ouve uma melodia desconcertante.
Via os ramos do carvalho a balancear e o vento rodopiava à volta deles de si. Não estava triste, nem contente, mas sentia-se evadido por uma serenidade pulsante. Colocou as mãos nos bolsos e sem saber como o fez, começou a assobiar e a acompanhar a melodia que se ouvia. Deu por si envolvido numa competição de trinados e assobios, de ventos e sopros e não pode deixar de sorrir.
Encostou-se no tronco rugoso do carvalho e imaginou as pessoas que ali teriam estado. Sentiu-se no meio delas. Ouviu-lhes as conversas, adivinhou-lhes os gestos, viu-lhe os passos. Tudo passa demasiado depressa, pensou ao mesmo tempo que retomou os assobios. Olhou o fato preto que o pai lhe tinha dado e achou-se elegante. Era magro, mas bem constituído e hoje estava ali, a assobiar, por debaixo de um carvalho porque queria muito estar perto de si. Desejava encontrar a paz que todos os dias os diálogos e as palavras lhe surripiavam. Lá dentro, no fundo de si, estava um sopro engaiolado que ansiava muito por tornar-se audível tornando-se parte de uma melodia.
Aproximam-se os dias quentes e uma cervejinha cai sempre bem. Claro que eu não podia beber e calar e fui tentar saber mais sobre a simbologia da cerveja.
Sendo assim fiquei a saber que a a cerveja é considerada bebida de soberania, bebida de imortalidade nas lendas de diversas culturas. Está associada à embriagues e era a bebida preferida das classes guerreiras. Na América equatorial encontramos as cervejas de milho e de mandioca desempenhando papel fundamental nas crenças ritualísticas até aos dias de hoje, principalmente nos ritos de passagem, espelhados no simbolismo da fermentação.
No antigo Egipto, considerada um símbolo de imortalidade, era apreciada pelos vivos, pelos defuntos e também pelos deuses em forma de oferenda.
Diz Platão: "Quem o vir, não reconhecerá facilmente a sua natureza primitiva, devido ao facto de, das partes antigas do seu corpo, umas se terem quebrado, outras estarem gastas, e todas deterioradas pelas ondas, ao passo que outras se sobrepuseram nela — conchas, algas ou seixos — de tal modo que se assemelha mais a qualquer animal do que ao seu antigo aspecto natural" Platão, A República, Livro X, 611 d., 9. Lisboa: ed. Gulbenkian, 2001, p. 480.