Ela revirava os olhos cansada da mesma conversa. As pessoas tinham por hábito dizer-lhe constantemente o que fazer. Já não as ouvia, o seu pensamento estava disperso e as palavras assemelhavam-se as asas que a faziam voar. Podiam tentar mandar nela, faze-la sentir culpada, mas a sua alma era indomável e voava para longe, estava muito acima das amarras que lhe queriam colocar.
Na verdade as almas são como cavalos selvagens que cavalgam pelo vento e relincham ao luar, não há quem as prenda.
Inventou uma desculpa, levantou-se à pressa e encaminhou-se para a praia. Tirou os sapatos na areia e correu para água agitada que hoje o mar lhe oferecia.
Tudo passa — sofrimento, dor, sangue, fome, peste. A espada também passará, mas as estrelas ainda permanecerão quando as sombras de nossa presença e nossos feitos se tiverem desvanecido da Terra. Não há homem que não saiba disso. Por que então não voltamos nossos olhos para as estrelas? Por quê?
Este é um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos. Faz-nos pensar em tanta coisa. Talvez seja uma história vista sobre a perspectiva maniqueista, mas a verdade é que percebemos onde os bons sentimentos habitam. Há um rato que nos mostra muito mais que os humanos. Há um rato que dá esperança e amizade. Há altruísmo e maldade, muita maldade. Gostei e recomendo.
O vento tocava-lhe na cara primeiro levemente, mas aos poucos como um gigante voraz cresce a sua passagem e toque quase lhe provoca dor. Não se lembrava há quanto tempo estava ali, sentada naquela pedra e limitava-se a ser açoitada e mexida por aquele vento que se tornara impiedoso. Percebia que tinha havido nela uma quebra e vivia uma forma de luto conceptual. Não havia uma morte real, física, mas havia uma morte conceptual daquelas em que as perdas são mais profundas e dolorosas. Não sabia indicar um dia exacto, desconhecia uma situação em concreto, no entanto a perda percorria-lhe cada centímetro de ser e mostrava-lhe o quão enganada tinha estado. Olhava o pequeno lago agitado, a água em movimento e deixava-se estar quieta e aconchegada no casacão azul, que tinha agarrado quando sairia. Era difícil explicar o que sentia, revia imagens, momentos, situações e percebia claramente que tinha de se afastar. Sentia a garganta a apertar-se impedindo um soluço, uma lágrima, talvez um grito. As perdas... toda a sua vida visitada por perdas. Aconchegou-se em cima da pedra fria e viu, ao longe uma árvore que dançava, escutou em si o riso de uma criança e sentiu o afago do abraço que o seu pai sempre lhe deu.