Nos telhados há...
Há uma imagem que me prende sempre que visito cidades diferentes, sobretudo no inverno: os telhados.
Parece tolo, tanta coisa para olhar, algumas coisas quase inenarráveis, e eu penso em telhados. Mas...nos chapéus das cidades percebe-se tanto da história, que me sinto mergulhar numa imensidão de pensamentos profundos e variados, quando consigo ver todas as telhas das cidades. É óbvio que não conseguimos ver claramente tudo, mas a ideia de abarcar tudo com a visão, a imaginação do que não conseguimos contemplar, é arrebatadora.
E vive-se tantas coisas, tantas histórias que os telhados suspiram, e que só ouvidos mais atentos conseguem escutar.
Há uma certa melancolia nos telhados, mas há também um mundo desconhecido por aqueles que vivem apenas nos rés de chão. O que se vê é diferente. Podia elaborar uma teoria axiológica, sobre a subida e a descida, quase moralizante, mas limito-me a escrever sobre o que sinto correr em mim, quando antevejo um telhado ou a ideia de um telhado.
Sente-se o mundo de forma pulsante, porque temos uma perspectiva mais ampla. Há melancolia, mas há desafio pelo desconhecido que sobre as telhas conseguimos antever. Sentimos, perto, bem perto, o bater das asas dos pássaros, que tal como nós descobriram que os telhados são outra dimensão. Um espaço onde não há barreiras e o olhar consegue alcançar muito mais do que apenas o imediato. Gosto de telhas e telhados, fecho os olhos e sinto que ao redor dos telhados todos podemos voar. Nos telhados há outra cidade dentro da cidade.