Não sendo um filme brilhante tem contudo,uma história que nos convida a reflectir sobre os contornos de uma sociedade que embriaga os sentimentos com medicamentos e ao invés de privilegiar uma estrutura baseada nos afectos e na alteridade promove o egoísmo e a busca de químicos que façam esquecer que cada um está por si. Não descura, no entanto que muitas vezes é necessária ajuda profissional, paga a peso de ouro, para que as pessoas consigam sobreviver ainda que de uma forma (im)pessoal. No final do filme é apresentada a percentagem de pessoas medicadas com prozac e é assustadora. Não é um filme de modas e parece-me que apresenta uma boa reflexão sobre os temas que descrevi.
Este não é um filme comum. São seis histórias num filme. E as histórias não são de desejos invulgares ou ficcionados, mas dizem respeito a raivas, desejos e frustrações com que todos vamos lidando no quotidiano. Quem não desejou que todos os seus inimigos desaparecessem? Quem não assistiu a verdadeiras guerras no trânsito que mais parecem, dada a intensidade, enormes crimes passionais? E descobrir que se ama a pessoa apenas depois de ambos viverem situações limite? Acuse-se aquele que não viveu ou conhece situações de multas que foram passadas e que levam muitas vezes, pela injustiça, a que as pessoas se sintam com raiva e perdidas? Como se percebe, pelo que escrevi, tudo situações comuns e que nos fazem pensar de uma forma mais reflexiva sobre princípios, valores, sentimentos e também sobre o rumo(s) que o mundo segue. O filme ganhou vários prémios, mas não é por isso que aconselho a que vejam. Penso que a mais valia de o ver é o pensar, profundamente, em várias questões e posições que tomamos enquanto seres sociais.
Parece que o fim de semana vai ser fresquinho, nada melhor que uma manta e um bom filme. Esta é uma estória intensa, muito forte, com imagens por vezes difíceis de visualizar, mas com uma mensagem de esperança e de luta. Apesar de tudo, parecer negro e despojado de esperança há sempre, no fundo de cada um de nós, forças para continuarmos vivos e a lutar. Na maioria das vezes nem sabemos que as temos. Esta é a mensagem que o filme nos passa.
Apesar de o trailer de apresentação não ter legenda posso assegurar-vos que é um excelente filme. É um tipo de filme em que para além da Estória, que é intensa, deixa-nos despertos para a existência de doenças que, muitas vezes, nem pensamos que existem. Neste caso é uma psicose muito específica que faz com que as pessoas criem uma espécie de vida paralela e convencem-se, de facto, que essa vida existe.
" As emoções são tudo o que temos" diz um dos protagonistas deste filme que é um dos melhores que vi nos últimos tempos.
Há um cruzamento de gerações, de partilhas de vida e, sobretudo, de reflexões. Seja em que momento for, chega um tempo em que temos de perceber o que devemos, ou não, valorizar. Boa reflexão, excelente história, bom filme.