A água cristalina e as entranhas escurecidas
(imagem retirada da net)
Saiu para a rua o mais depresa que conseguiu. O cabelo desgrenhado e na mão apenas um casaco que agarrou quando passou na entrada. Ouvira tudo, tantas coisas, palavras que a rodeavam, que a atormentavam sem saber o que fazer para que se fossem embora. Viu lentamente a cena, seguiu-lhe o movimento dos lábios, percebeu tudo. Não fora capaz de ficar mais, ficar só para que não se sentisse sozinha, manter-se apenas para que da sua existência fizesse parte uma companhia vazia, e apenas corporea. Passou a as mão pela sua alma sentiu-lhe os recantos; um a um, percorreu-os, deteve-se, continuou, teve medo, saiu e entrou.
Não queria voltar, não iria retornar a um vazio onde era ela, apenas ela. Talvez existisse, também, uma sombra do que ela queria ter. Nunca teve.
Conhecera sempre as entranhas dos outros no momento em que se afastava deles. Aí percebia-lhe o rancor, os negrumes que só se vêm quando se perde. Nesse momento percebia-lhe o avesso e via, quase sempre, o que ela já persentia e negava-se a aceitar.
Só se conhecem as pessoas, verdadeiramente, quando tudo está mal, quando o jogo do faz de conta se extingue e o lúdico da vida se inicia.
Caminhou mais um pouco e debruçou-se sobre a fonte de água corrente e cristalina. Sentiu-a nas mãos, fresca e penetrante. Ficou por ali a ouvir o som a água a bater na pedra e a sentir-lhe a frescura a percorrer os dedos. Não ia voltar....