A Chuva que cai, sem cair...
(imagem retirada da net)
Naquele dia tinha chovido muito, chove sempre quando a alma está dorida e ensombrada. Ele vestiu o casaco preto, longo, colocou o chapéu na cabeça com um gesto rápido saiu para a rua. As gotas começaram a cair, a materializar-se e molhavam-lhe a pouca pele que estava despida. Abriu um guarda-chuva, preto e robusto que por um segundo lhe deu a falsa sensação de protecção. Chovia muito e quando a água cai, sem dó, não há protecções suficientes para impedirem que tudo esteja alagado e pareça perdido.
Olhou em redor, com os olhos semi-cerrados e com uma expressão de quem parece procurar algo que está ali, mas não consegue ver. Com o pé deu um pontapé num pequeno seixo que rodopiou rua fora até encontrar abrigo num tronco de árvore. Olhou longamente a pequena pedra, o trajecto que tinha feito e o facto de agora estar encostada à árvore e suspirou. Queria ser entendido sem ter de explicar, desejava que alguém lesse o que sentia e que o ajudasse a escapar àqueles dias em que a chuva caia sem cair. Voltou para casa, voltava sempre para casa...