À procura da Luz...
(imagem retirada da net)
Pegou no chapéu, de feltro cinzento, que tinha sobre a cadeira, colocou-o na cabeça e compôs, com as mãos as pontas o cabelo que ficaram viradas para fora. Caminhou pela rua, os carros sucediam-se às pessoas que vagueavam pela avenida com olhar perdido e ancoradas no desejo de vencerem o tempo. Também ela era uma anónima que percorria, muitas vezes sem rumo, as salas abertas de vidas que se cruzam diariamente e durante anos.
A amiga Madalena tinha tido, há anos, um acidente de moto grave, que a colocou num coma profundo durante três meses. Falaram muito sobre isso, ela e a Madalena. Contou-lhe várias coisas, sensações que recordava, sons, mas o que mais a inquietou foi ela dizer-lhe que tinha visto uma luz intensa e branca. Desassossegou-se, em primeiro lugar, porque ela pensava que a estória do túnel não era verdadeira e também porque ela descreveu, de tal forma, a paz que sentiu quando viu a luz que ela passou, mais ou menos, conscientemente a procurar uma luz.
Perguntava a pessoas, interessava-me por acidentes, pelo relato dos intervenientes e passaram anos em que a menina do chapéu procura uma luz, uma luz que trouxesse paz e brilho. Olhava para o céu, para o mar, para as pessoas que gostava, e muitas vezes acreditava que sentia esse brilho, mas não estava satisfeita. Anos mais tarde, encontrou a Madalena, por acaso, num desses centros comerciais da moda. Estava magra, com olheiras fundas e a principio nem a reconheceu. Ela viu-a e veio falar-lhe, deu-lhe um longo abraço e ficaram à conversa( daqueles diálogos, que fazem parar o tempo)... Voltou a falar-lhe, no relato da luz. Sorriu e disse-lhe: todos os dias procuro essa luz, disse-lhe. Também eu, respondeu, ela, a rir. Sentada atrás delas estava uma Senhora que devia ter uns setenta anos, cabelo grisalho, fato de saia, preto e branco e brincos de pérolas. Pediu-lhes desculpa, reconheceu que tinha ouvido a conversa delas. Contou que também tinha passado por um estado de coma e que sentiu, também essa luz, que a procurou depois, tal como elas, e que a encontrou.
- Onde? quiseram saber!
-É tão simples, respondeu.
-Olhem bem para dentro de vocês. Escondidinha dentro de cada um está uma luz brilhante que nos transmite paz e tranquilidade. Basta terem tempo e quererem ver. O coma dá-nos esse tempo.
Despediram-se. Continuou à procura de tempo e da.... luz.