A Rosalinda...
Olhava para ela e não entendia a revolta que lhe perpassava o olhar. Era franzina, corpo de adolescente, carregava porém, um semblante duro e sofrido. Ao inicio julguei-a rude, no fim senti-lhe as dores e achei-a magnífica.
Tinha 25 anos. Durante dez anos teve ataques epilépticos em catadupa, ao ponto de o cérebro se "desorganizar" e ficar atrasado relativamente ao "normal" desenvolvimento. Ao início olhava para mim com raiva, afastava-se no sofá e cruzava os braços zangada.
Era a mãe que me falava e se queixava do seu mau humor. Eu sem a conhecer defendia-a sempre. Dizia que ela tinha razão, que era do tempo, ou do trânsito. Desabafava que eu também estava zangada. Ela continuava desconfiada, este desamor durou uns meses.
Um dia a mãe teve de sair mais cedo. Fingi que tinha um rebuçado a mais e que não queria. Sugeri-lhe que ficasse com ele. Tirou-mo rapidamente da mão, com fúria. Não disse nada e fingi-me desinteressada.
-Tenho um gato, disse, zangada.
E o gato foi a palavra que nos uniu, foi a porta de entrada pelo mundo da Rosalinda. A menina com cara de 25 anos, corpo de quinze e de uma alma sem tempo.
Tornou-se minha amiga.
Hoje quando chego chama-me timidamente para me sentar ao pé dela. Por vezes não dizemos nada. Eu não me importo. Outras admiro tanto a sua coragem, a sua força e persistência que acabo por lhe dizer alguma coisa.
Envergonho-me das minhas queixas e sem ela dar conta, faço-lhe uma festinha na cabeça. Ela zanga-se e eu quase choro. Não sei o tempo que poderei estar com ela, mas tenho a certeza que serão momentos de grande aprendizagem e crescimento interior.