Corro apressada por entre os carros que passam e uma poça de água oferecida pela últimas chuvas. Os saltos tocam no chão e fazem um barulho persistente e irritativo. Corro, corro sempre muito. Tudo se movimenta, mas ninguém saboreia.
A vida não é saboreada, porque para saborear é preciso tempo, admiração e dedicação. Olho para o relógio e deixo de ver o pássaro que me ofereceu uma bela melodia, ou a joaninha que me poisou na camisola. Volto a correr, pego em papéis, oiço palavras vazias que não me fazem tremer ou suspirar, sinto-me uma máquina eficiente que tudo resolve. Satisfação instantânea, mais uma vez não saboreada, que há para saborear no vazio? Não há tempo para pensar. A noite chega, corro para casa, corro em casa, passo por um livro a correr.
O sono chega, mas até esse é rápido, a manhã está de volta, não sei o que comi, nem para onde olhei, porque não vi, já não me lembro de ontem, volto a correr e esqueço-me que não consigo sentir e muito menos saber, sem saborear. Os saltos tocam no chão, mas desta vez não os mexo, olho para o céu, já não me lembrava de quão bonitas são as nuvens...
Cansativo mas bem, não devia de passar tanto tempo sentado, e para pior as coisas tenho o hábito de dobrar a perna por baixo do corpo e isso só me faz é mal.
Se estivesses agora comigo num café ou noutro lugar qualquer irias reparar que tenho sempre os olhos vermelhos e/ou molhados, dá ideia que estive a chorar, mas não, é apenas vista cansada, acho que também tenho que começar a andar com uma tábua de engomar para andar todo direito, ah ah.
Eu acho que isto já não tem arranjo, e ainda por cima como sou alto tenho tendência para andar todo curvado mas tento sempre endireitar-me, mas vou tentar fazer isso.