Admeto, Alceste e os egoísmos
(imagem retirada da net)
Estava deitada na margem do rio, bem perto do local onde o rio se torna mar, onde deixa a infância e se torna adulto. O sol estava quente e deixava-me num torpor que me fazia manter deitada. Senti alguns passos e levantei lentamente a cabeça. Ao pé de mim estava Admeto que me olhava com um sorriso. Sentou- a a meu lado e ficamos de olhos fechados a falar de tantas coisas que é impossível lembrar-me de todas. Admeto era amável com todos o adoravam. Contou-me que Apolo lhe tinha pregado uma partida e se tinha feito passar por um dos seus súbditos para ver como ele os tratava. Como gostara do que vira concedeu-lhe duas benesses: Casá-lo com uma boa rainha e dar-lhe uma nova vida quando estivesse a morrer.
Contou-me que casaria na próxima semana e quis que eu estivesse com ele. O casamento foi lindo, Alceste era bonita e boa. Acompanhei aquele casamento durante anos e havia harmonia e amor. Os dois eram bondosos e todos gostavam deles.
Um dia, porém, Admeto adoeceu subitamente e lembrou-se da promessa de Apolo, de uma nova vida. Apolo confirmou-me e combinou tudo com a Morte. Mas esta perniciosa e matreira, exigiu que alguém morresse para que Admeto vivesse. Todos concordaram que seria fácil, porque ele era tão bom e todos gostavam tanto dele que alguém morreria por ele. A verdade é que nem os pais, nem nenhum dos súbditos se quis sacrificar. Alceste foi aquela que foi ter com a morte e preferiu partir a ficar sem Admeto.
Admeto deixou e todos deixaram que Alceste o fizesse. Os egoísmos ficaram a dançar por entre aquele reino.
Hércules comoveu-se com a tudo aquilo e foi resgatar Alceste. Alceste voltou, mas nunca mais disse uma palavra. A visão do outro mundo ou do que se esconde por baixo da pele humana emudeceram-na.
Tinha compreendido que o amor e a morte, a generosidade e o egoísmo, a coragem e a covardia se entrelaçam, são inseparáveis, para formarem essa figura complexa, rica e imperfeita que é todo e qualquer ser humano.