Chegou cedo naquele dia. Procurou por entre as paredes das casas as vozes de outrora, os cheiros e as imagens. Contudo, os olhos apenas lhe mostravam imagens fugidias, liquefeitas e sem corpo. Tudo parecia desfazer-se, lentamente, à sua passagem, mas ela sabia que não era o seu deambular que provocava o vazio, há muito que sabia que o nada existia antes dos seus passos.
A aldeia estava cheia das pedras onde antes brincou com os amigos à apanhada e às escondidas, mas deles apenas as imagens fugidias. Olhou o sino da pequena capela que agora estava fechada e respirou o ar cortante e puro que a rodeava.
Tudo estava demasiado quieto, tremendamente silencioso. Olhou para o alto e reconheceu a grande figueira onde passava grande parte das tarde de Verão. Naquela altura era a professora dos amigos, obrigava-os a levar livros e trabalhavam durante o calor. Sorriu por se lembrar que a meio do Verão já nenhum lá aparecia e ela ficava sozinha, com os livros todos para si. Passava o resto das férias entre aventuras e estórias encantadas, era um deleite tremendo, pensou.
Voltou a sair do pequeno amontoado de pedras, que antes tinham vida e movimento e pensou em todas as pequenas aldeias, perdidas pelo mundo, onde viveram e cresceram tantas gerações de pessoas e que agora estão condenadas a perecer e enterrarem, com as suas pedras, os ecos dessas vidas. Gostava tanto que as aldeias voltassem ao seu emaranhado de cores, à labuta, à vida...
Olá, querido paciente! De facto as pessoas estão a afastar-se das aldeias não só não as procuram para as férias como as têm de abandonar para trabalhar.
Sim, para trabalhar ainda se entende, agora não querer visitar é outra, sabes que também nessas aldeias existem muito poucas pessoas que não querem sair porque fizeram toda a sua vida lá, eu entendo isso, se fosse comigo também faria o mesmo de certeza, o problema é que existem pessoas que preferem ir para fora porque acham que fica mais barato, mas não fica.
E é muito mal feito, mas há uns tempos atrás vi uma reportagem na SIC em que dizia que um casal de estrangeiros tinham vindo para Portugal e estavam a viver numa aldeia no Interior, trouxeram os filhos e penso que até estavam a pensar em ser Agricultores.
Se não forem eles a investir mais ninguém o faz, nesse aspecto gostava que Portugal fosse diferente mas acho que estou a pedir muito, acho que noutros Países da Europa incentivam as pessoas, pelo menos penso que na Holanda é.
Quando fui ao Luxemburgo há dois anos atrás lembro-me de ter visto os campos todos verdes e arranjados, se as ervas não estivessem cortadas na berma da estrada as pessoas tinham que pagar multa, em Portugal se for preciso atiram lixo para os terrenos das pessoas como se nada fosse.
Aqui na minha rua há um grande exemplo disso, existe um terreno grande onde agora um senhor pediu permissão para meter os seus animais a pastar e está lá muito lixo que as pessoas atiram, ah, e lá se fores apanhada a atirar beatas de cigarros para o chão levas multa.
Assim que lá cheguei pensei logo que estava num Mundo completamente diferente, a parte que mais gostei foi mesmo a das paisagens, é só campos grandes e verdes, o estilo de vida lá também é completamente diferente.