As mortes não físicas
(imagem retirada da net)
O vento tocava-lhe na cara primeiro levemente, mas aos poucos como um gigante voraz cresce a sua passagem e toque quase lhe provoca dor. Não se lembrava há quanto tempo estava ali, sentada naquela pedra e limitava-se a ser açoitada e mexida por aquele vento que se tornara impiedoso. Percebia que tinha havido nela uma quebra e vivia uma forma de luto conceptual. Não havia uma morte real, física, mas havia uma morte conceptual daquelas em que as perdas são mais profundas e dolorosas. Não sabia indicar um dia exacto, desconhecia uma situação em concreto, no entanto a perda percorria-lhe cada centímetro de ser e mostrava-lhe o quão enganada tinha estado. Olhava o pequeno lago agitado, a água em movimento e deixava-se estar quieta e aconchegada no casacão azul, que tinha agarrado quando sairia. Era difícil explicar o que sentia, revia imagens, momentos, situações e percebia claramente que tinha de se afastar. Sentia a garganta a apertar-se impedindo um soluço, uma lágrima, talvez um grito. As perdas... toda a sua vida visitada por perdas. Aconchegou-se em cima da pedra fria e viu, ao longe uma árvore que dançava, escutou em si o riso de uma criança e sentiu o afago do abraço que o seu pai sempre lhe deu.