Calipso, amar quem não nos ama?
(imagem retirada da net)
Comecei a subir a serra devagar. Contornava as pedras, procurava veredas e a respiração denunciava o cansaço que ameaçava visitar-me. Quando me abeirei do cimo procurei uma floresta que concebia como bela, a acreditar nos relatos que tinha ouvido.
Andei durante muito tempo, mas descobri, não uma floresta, mas um mundo encantado onde as árvores assumiam uma perfeição sem modéstia e a água saciava os campos. No meio do verde habitava um pequeno ajuntamento de pedras e uma gruta.Tentei olhar para dentro da gruta, mas estava muito escuro.
Preparava-me para me virar quando vejo Calipso, atrás de mim, com um olhar aborrecido. Cumprimentei-a, mas ela tentou afastar-me. Fiquei triste, mas nada lhe dei demasiada importância. Continuei a olhar as árvores a água, e a cada passo era a harmonia que me dava a mão e me acompanhava.
Arrumei a garrafa de água, na mochila, e preparava-me para regressar, quando Calipso me agarrou no braço.
Estava despenteada com olhos de choro e pediu-me se podia sentar-me por um instante. Acedi e ouvi-a atentamente. Contou-me que Ulisses estava preso na gruta e que ela tecia e fiava dia e noite para que ele gostasse dela, mas não conseguia. Ele só pensava em Penélope, sua mulher. Aconselhei-a a deixa-lo, mas ela dizia-me que não conseguia viver sem ele. Expliquei-lhe demoradamente como é difícil obrigar alguém a gostar dela e que fazer isso não demonstrava amor, mas sim egoísmo e mesquinhez. Começou a chorar e voltou para a gruta.
Fiquei à espera um longo tempo alimentando a esperança que ela deixaria Ulisses voltar para casa, mas tal não fez. Ulisses continuou um longo tempo enclausurado com Calipso, mas na sua cabeça e no seu coração só Penélope entrava. A sua prisão era um cativeiro ilusório porque ele nunca estivera, de facto, preso. Ninguém está preso quando ama.
Hermes forçou Calipso a soltar as amarras de Ulisses e ela, arrependida, ajudou-o a voltar a casa. Não se prende quem não nos ama...