Como Medusa não encontrou o bem dentro de si...
Escondi-me atrás das cortinas brancas e esvoaçantes, lá em baixo as ninfas passeavam no enorme jardim de pedra e flores. Medusa estava no quarto, mas não me via. Estava sentada numa cadeira alta e as serpentes esvoaçavam na sua cabeça, em competição entre si. Não lhe via os olhos, mas sentia-os tristes e pesados, ou não tivessem eles a capacidade de transformar tudo para onde olhavam em pedra. Mas os olhos estavam fechados. Via-o claramente. Deitou-se no sofá e as serpentes continuavam a clamar por vingança, por morte, por pedras e mais pedras. Ela sentia-se a portadora da morte, um anjo negro que não podia aspirar a mais nada do que viver para matar. Suspirou tristemente.Tinha deixado de acreditar em si, neste momento via(sentia) apenas o seu veneno, sem olhar para todo o bem que tinha em si.
Abruptamente Perseu entrou no quarto e com um golpe de espada cortou a cabeça a Medusa. Levei a mão à boca horrorizada, mas nada disse. Uma jarra de flores caiu no chão onde estava, já, o sangue derramado. Da veia esquerda um veneno poderoso misturava-se com o sangue, na direita um antídoto capaz de devolver vida aos mortos. Fiquei por ali muito tempo, revoltada e triste. Medusa concentrou tanta da sua energia no mal, em tirar a vida, que se esqueceu que só ela poderia dar de novo essa vida. No chão continuavam as flores, umas transformadas em pedra e as outras com as mais bonitas cores que já tinha visto.
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