Continuo à espera, à beira de um rio, que tem pedras e paus...
O riacho corria despreocupadamente por entre paus e pedras, e eu olhava distraidamente para os saltinhos que água dava ao passar. Não era o facto de estar sozinha que me preocupava, pensei. O que, na realidade, me agoniava e desassossegava era o facto de não ser compreendida, sobretudo, o não saber o que esperar. Nunca sabemos com o que contar de uma espera que não é "esperada".
Quando assim é temos uma espécie de cavalo selvagem que não conhece a lei das rédeas e muito menos sabe o que é ser dócil. Era verdade que ali, onde tudo tinha um encadeamento perfeito, onde não havia questões, nem competições, isso não me preocupava em demasia, mas ali as árvores sempre tinham sido árvores e o rio sempre correra, as flores voltavam sempre que o sol suspirava e que o orvalho as acordava. Ali não havia nem tempo, nem dúvidas.
Eu nem sempre fora eu, ou se sim já o tinha esquecido. Esperava não um milagre, ou acontecimentos mágicos, esperava apenas encontrar-me, descobrir o que eu era realmente, ver por baixo do que a pele escondia/sugeria. Agarrei num pequeno pau, daqueles paus que servem de caminho nos passeios domingueiros das formigas e das lagartas, e esperei, que mais poderia fazer do que esperar? A luta tinha sido constante, tal como o rio luta por manter o seu leito desocupado e desgasta o que se lhe atravessa e se impõe, assim tinha sido a minha luta. Ainda assim tal como acontece com o rio chega o dia em que depois de pedras e dos paus, há que seguir o curso do rio, deixar fluir e esperar. Olhei demoradamente o pau, percorri-o com os dedos, com os olhos, iniciei um namoro inconfessável e absurdo. Vi no pau, não um pau, mas uma chave. Uma possibilidade de abertura de algo que há demasiado tempo estava oculto e fechado. Continuo à espera, à beira de um rio, que tem pedras e paus....