Da competição ao descanso
Seated woman - Pablo Picasso, 1927
O cabelo balançava para um lado e depois para o outro. Cada passo avançado dava-lhe uma força desmedida para continuar. Não percebia a razão,mas sabia que desde que começasse não mais conseguia parar. Em tudo era assim, como se estivesse em competição permanente consigo.
Sentou-se cansada, pensando já em levantar-se e continuar, mas adivinhou-lhe a presença e deixou-se ficar mais um bocadinho na pedra grande e cinzenta. Sentiu-lhe a respiração, mas fingiu-se concentrada no movimento das ondas. Longínquas, imperturbáveis as ondas acompanhavam o tempo, as vidas, seguem tudo com uma atenção desinteressada, mas presente.
Ele sentou-se e deixou-se ficar, uma hora, duas, não o sabia. Sentia apenas que não tinha mais que correr, nem que competir. Era tempo de estar bem consigo, era o momento de voltar a casa. Ele puxou-a, sentou-a no colo, ela deixou de lutar contra si e adormeceu.