Da manta de retalhos à vida...
Sentia-se cansada, entrou em casa e começou a tirar os pequenos pedaços de tecido que lhe tinham oferecido, no dia anterior. Ninguém gostava de pedaços de pano. Os tecidos eram completos e era difícil entender que vários pedaços podiam fazer um tecido enorme.Tirou, um por um, e olhou-os demoradamente: uns eram azuis, outros com flores, com pássaros, com paisagens, escuros, claros... um corredor enorme de cores desfilava diante dos seus olhos. Cada vez que os pequenos pedaços passavam, ela via estórias, algumas alegres e leves, outras pesadas e tristes, umas duravam até hoje, outras ficaram pelo caminho e foram empurradas pelo vento. As mãos delicadas pegaram numa pequena agulha e faziam passar a linha pelo tecido, devagarinho, sem interrupções e com um método que maravilhava. Continuou, com este dedilhado, apalpando as horas que se imiscuíam entre os tecidos. Estava sentada, numa pequena cadeira de verga, que chiava a cada movimento que fazia, e na testa uma pequena ruga instalara-se bem no centro.
Depois desta dança de agulha e tecidos conseguia ver-se que surgia, entre os dedos, uma enorme manta colorida. Nesta manta estavam reunidos todos os momentos que ela vivera, ela via-os claramente, eles bailava-lhe nos olhos. A linha tinha unido as lágrimas e os sorrisos, as noites em claro e os sonhos que nasciam. A manta era a sua vida.