Das bolas de vidro aos mundos imaginários...
Quando era pequena ofereceram-me uma daquelas bolas que ao ser sacudida oferece uma colecção fugaz de pequenos flocos de neve. Claro que passava horas naquilo, a sacudir e a ser presenteada com pérolas e mais pérolas de gelo. No meio da bola habitava uma pequena casa, com telhado pardo e de chaminé fumegante. As portitas e janelas pareciam de madeira pesada e castanha, daquelas em que o frio dificilmente consegue entrar. Quando mexia na bola sentia-me, um pouco, como a dona daquele mundo, onde tudo coexistia de maneira perfeita e equilibrada. Era boa essa sensação se ser dona da neve. Quando queria ela caia; e a casa ficava branquinha, aconchegante e perfeita. Quando sentia saudades do sol, ficava quietinha e a casa renovava as cores.
Anos mais tarde dei por mim, sentada num jardim, a pensar naquela casinha que tantas horas me contemplou e onde eu era a senhora da neve. Nessa ocasião pensei, também, na necessidade que temos de criar mundos, países e até seres imaginários. Como se a realidade fosse tão atroz que nos impulsiona violentamente para um paralelismo de mundos. Penso que se analisarmos cruamente o mundo de hoje e a realidade que nos é dada, dia após dia, não conseguimos respirar nem mais um momento. Precisamos, efectivamente, de mundos utópicos que se deixem controlar por nós. Neles erradicamos o que não nos interessa e ficamos só com o que nos faz felizes. Os seres mágicos e os mundos encantados são, no fundo, as mochilas que permitem carregar a realidade.
Eu escolho uma bola com uma casa de neve(eu sei que é Verão) e por aí?