Das escadas à confiança...
Ela olhou para a pequena escada e viu, no cimo, uma pequena luz fria e parda, hesitou mas a voz dele , suave e reconfortante, encaminhou o seu pequeno sapato, azul, aos degraus. Sentia o movimento dos passos no corpo e era quase como se os pés fossem independentes e tivessem vontade própria. O pensamento não existia, não era o pensamento que comandava os movimentos regulares que iam habitando os degraus.
-Se pensasse não confiava, ecoou dentro dela uma voz baixa e quase imperceptível. Delicadamente subia, uma após outra, as pequenas escadas de madeira e à medida que o fazia sentiu-se forte, teve a sensação que flutuava e que não existiam degraus ou subidas. Ela confiava e quando se confia tudo assume uma tonalidade leve e delicada. Não sabia porque razão ele insistira para que subisse a escada, mas agora que o fazia sabia que não seria ele que lá encontraria.
Os sapatos azuis continuavam, devagar, a sua melodiosa subida até chegarem a uma curva quase inexistente onde a luz se tornava mais intensa. Olhou para o chão e viu a sua imagem reflectida num pequeno espelho dourado. Percebeu que não tinha sido a voz dele que ela tinha ouvido e que tinha impulsionado a subida. A voz era a da confiança que ela tinha guardado em si, mas que, constantemente, abafava, como se faz quando se chora em silêncio. Pela primeira vez ela tinha confiado e tinha entrado no reduto da paz e da entrega, porque quem confia entrega-se, rasga o peito e deixa de temer o que quer que seja.
A confiança tem, no entanto, um pequeno "truque" só pode ser aberta e vivida por aqueles que percebem que ela existe, antes de mais, em quem se atreve a subir escadas e a encontar espelhos que devolvem a sua imagem e que ensinam a olhar, antes de mais, para si mesmos.
Ela pousou o espelho, na madeira da escada, e continuou a sua subida...