De Hefesto a quem quer pensar só com os dedos?
Hefesto (Deus grego do trabalho e dos artesãos) trabalhava meticulosamente e ponderadamente com as mãos. Tudo era ritmo, entrega, esforço e sede de criar. Não havia espaço para um pensamento elaborado e recôndito. Aqui pensamento era movimento, viver era fazer.
As obedientes e afáveis artesãs, que ele pensava comandar, eram rugosas, hábeis e transmitiam uma tal força a que era difícil ficar indiferente. Os meus olhos pousaram nelas, detiveram-se naquele movimento contínuo que nos deixa absortos e saudavelmente distantes. O trabalho quando feito com entrega, tem esse poder analgésico, viciante e dá-nos a possibilidade de nos transportar para outra dimensão diferente daquela onde estamos (ou de onde queremos estar).
As mãos pararam, Hefesto sentou-se e o outro mundo, onde entra o pensamento elaborado, abateu-se sobre ele. Olhou demoradamente para as suas companheiras rugosas, atarantado, e percebeu que estava condenado, para sempre, a criar.
Sorriu...
De novo o movimento dos dedos numa cadência bela e perfeita. A partir dali pensaria só através deles...