Desejos e fins de ano
Com um ano prestes a terminar, a inevitabilidade do balanço e dos desejos persegue-nos.
Não que os balanços não se façam todos os dias e os desejos não persigam os nossos passos desde que acordamos. Mas o fim do ano, tem qualquer coisa de nostálgico, ao mesmo tempo promissor. O mesmo se passa com as palavras que escolhemos para caracterizar o fim de ano.
Parece uma contradição isso que junta o balanço aos desejos. Uma análise atenta à etimologia da palavra revela-nos, no entanto, que a palavra balanço encerra no seu amago a significação de um movimento oscilatório entre o que vai e o que vem, mas também o solavanco. O desejo completa o balanço na medida em que significa (etimologicamente) esse querer " fixar as estrelas". E seguir o desejo é seguir a estrela. O solavanco causado pelo balanço impele-nos a perseguir a "boa estrela".
Um ano acaba, outro começa, num movimento que quase eterniza o retomar. Mas o que retorna é sempre diferente, nós somos diferentes. Confesso a minha descrença em relação a uma repetição total nos retornos de Sísifo. Em cada repetição Sísifo retorna diferente porque até no absurdo há desejos, nem que seja o desejar não retornar.
Acabo o ano com desejos, perseguindo as estrelas e acreditando que o que desejamos pode não estar apenas no céu.