Do Feijoeiro à Paciência
Os papéis cobriam a grande mesa de madeira castanha com pé de galo. Não sabia há quanto tempo estava ali, em volta daquelas folhas de papel, mas nada do que sentia migrava para aquele papel descolorido. A mãe passava por lá, às vezes, mas não dizia nada. Espreitava apenas, fazia um leve sorriso, e continuava a sua missão pela casa. Muitas vezes se perguntara qual era, de facto, a sua missão, mas mal o fazia imaginava-a tal qual um anjo, com asas e tudo, desistia de ir mais a fundo com esta questão. Era alguém que estava atenta aos outros e isso, para já, era motivo de admiração e, até, de uma certa emoção. Continuou a virar os papéis, a escrever algumas coisas, depois punha o lápis na mesa, nova dança de papel e letras, mas não conseguia. Suspirou alto e a mãe gritou-lhe: - É preciso paciência.
Ficou surpreendido pelo facto da mãe ter dito alguma coisa, sobretudo com as palavras dela.
O que seria, exactamente, ter paciência. Deixou-se ficar quieto, com as mãos apoiadas na mesa e o olhar pregadinho no tecto. Mil coisas voaram-lhe pelo pensamento, mas rapidamente arranjou um cantinho que fixou. Nesse pequeno espaço, de pensamento, viu um pequeno feijoeiro. Imaginou-se a colocar a semente na terra, a rega-la, a tirar todas as ervinhas que queriam brincar e viu-se à espera. Descobriu-se a ter paciência que a semente rasgasse a terra à procura da verdadeira vida. O intervalo entre a semente que caiu na terra e o feijoeiro à descoberta da vida era a paciência. Manteve-se a olhar para o tecto e fechou os olhos, por um instante. No papel as palavras começaram a aconchegar-se, a distância entre o que estava escrito e o que ele queria que acontecesse era, de facto, a paciência. Naqueles dias o sol brilhou tanto que o feijoeiro cresceu muito, muito e era impossível contar todas as flores que tinha, por tão grande estar. O intervalo acabara...