Do pão quente à Etelvina guerreira
(imagem retirada da net)
Olhou para todas as lojas na esperança de encontrar uma padaria. Apetecia-lhe o cheiro do pão quente. Talvez porque o cheiro a levava de volta à infância e às festas em casa. À azafama da mãe, às cores, e ao cheiro. Sim ao cheiro, porque todos os momentos que ela cravou em si tinham cheiro. Subiu as escadas, virou à esquerda, tentou ler a lista de nomes, até que encontrou o supermercado. Não era uma padaria, pensou, mas certamente encontraria pão quente. Passou por vários corredores até que encontrou a desejada iguaria. Sentiu o calor nas mãos, encostou-o às narinas e seguiu para a caixa.
Duas caixas, duas filas e várias pessoas aguardavam.
Defronte de si vê uma mulher franzina que denuncia cansaço. Viu-a colocar a cabeça em cima do tapete onde desfilam as compras. Percebeu que se sentia mal e perguntou-lhe se precisava alguma coisa. Simultaneamente a Sra. da caixa empurra uma cadeira e ajeita-a para a Sra. se sentar. Falam com ela. O polícia que ali se encontra, aproxima-se. Eram três pessoas, que naquele momento se esqueceram de si e olhavam para outro. Esperavam que a ajuda ao outro os ilibasse de todas as suas faltas. Não pensaram nisso, tinha a certeza de que não o tinham feito, mas era isso que ela pensava.
Há movimento em torno da Sra.: um vai buscar água, outro uma goma. O polícia sugere uma ambulância. A Sra. diz que se chama Etelvina e que tem 90 anos.
Não pode ir de ambulância porque o marido, com 92 anos, está em casa à espera dela. Ela recusa-se a ir porque o marido ia ficar muito aflito. Sugere-se ligar aos filhos. Ela abre os olhos bondosos e grandes, quando se fala nos filhos e começa a chorar. Fica lívida e quase desfalece.
Ela faz-lhe uma festa nomeio da testa. Etelvina abre de novo os olhos, bebe um golo de água. Diz que os filhos vivem longe e que não podem vir. Está sozinha, não comeu e vive para cuidar do marido.( Coitada da Etelvina que não percebe que também precisa que cuidem dela). Os filhos, longe desconhecem se ela respira, não sabem o que sente. Divorciaram-se dos pais… Deixaram de encontrar “utilidade” em saber deles.
Voltou à rua, sentou-se no primeiro banco que encontrou. Lembrou-se do pão, mas não conseguiu voltar…