Do sentir a todos temos uma missão?
Das experiências mais enriquecedoras que tive foi quando um professor me pediu fazer uma experiência estética. Na altura fiquei atrapalhada porque não sabia com precisão em que consistia. O professor lá explicou que um ensaio estético baseava-se num entrar na obra, esquecer tudo o que estava à volta(uma espécie de fusão entre observador e objecto observado) ver(verdadeiramente) e sentir. Na altura isso pareceu-me muito complicado e irreal, mas, ainda assim, lá fui eu para a Gulbenkian. Sentei-me no chão e escolhi um quadro. Passei uma boa meia hora a olhar, a tentar perceber a obra, a mensagem, as cores... mas nada imprimia, em mim, um sentimento de pertença e de abandono do que à minha volta imperava.
Ao fim desse tempo comecei a sentir que estava dentro do quadro, o que me rodeava tinha desaparecido e eu já não era bem eu, tinha uma sensação de estranheza e simultaneamente de profundidade e, até, de paz interior. Nunca mais repeti aquela impressão, no entanto posso dizer que foi arrebatadora.
Há pessoas que conseguem esse tipo de sentimento por meio acções que praticam, com pensamentos, com partilhas, com caminhos e com direcções por onde enveredam. Quando sentimos assim percebemos que temos uma missão; por vezes é difícil descobri-la, outras nem queremos aceitar que a temos, outras ainda, demoramos tempo, por vezes mais de meia hora, a misturar-nos com aquilo que descobrimos ser a nossa missão. Uns descobrem quadros, ligam-se com eles, outros descobrem pessoas a quem ajudar, a quem amar, trabalhos a realizar, enfim, encontram um propósito e, acima de tudo, conseguem ver(verdadeiramente) e sentir. Quando assim é deixamos de ser "donos" de nós próprios. Teremos todos uma missão?