Dos lugares aos teares....
Durante anos tive uma séria relutância em convidar namorados, ou amigos próximos, a ficarem na minha casa. Pensava que se algum dia nos zangássemos eles já estariam um bocadinho comigo, porque já faziam parte do banco onde se sentaram, dos objectos em que tocaram e as suas vozes dançariam, para sempre, naquele espaço físico. Depois nunca mais estaria sossegada, em casa, porque se já não os visse ia vê-los sempre. Então, durante muito tempo, não houve amigos na minha casa. Saiamos, passeávamos, mas em lugares que eu pensava nunca mais os encontraria( caso não os quisesse encontrar). É claro que com o passar dos anos percebi que isso era pura ilusão. As pessoas que nos marcam, ficam cravadas em nós.
A relação que construímos, com essas pessoas, assemelha-se a um tear e à fiação de um tecido. A cada movimento adicionamos mais uma fiada à peça. Umas vezes essa fiada tem cor, outras é preta, mas todas juntas vão construindo maravilhosos tecidos. Esses tecidos precisam de ser sempre bem tratados, bem lavados e convenientemente secos. Quando não temos este cuidado o tecido vai-se deteriorando e torna-se esburacado. Por vezes tentamos remendar; mas o local do remendo é mais frágil e caso não seja bem protegido volta a romper, com facilidade, tornando-se, por vezes, impossível consertá-lo. Chega um momento em que temos de deitar aquela peça de tecido fora porque já não conseguimos mante-la, mas, nem por isso,deixamos de nos lembrar das cores e da textura. Não o temos, mas temo-lo.
Depois disto não interessa se as pessoas vão, ou não, a nossa casa, se passearam, ou não, connosco. Aquelas com quem fomos trabalhando no tear, têm sempre uma assinatura na nossa pele, no nosso coração e estejam longe ou perto, estão sempre em nós.
Já utilizaram muitos teares?