Esta parte nunca mais a vou perder...
(imagem retirada da net)
Há dias um amigo contou-me que tinha feito o caminho de Santiago. Muitos kilómetros, a pé, sozinho, deixando para trás os filhos e a família. Não é muito vulgar ouvirmos histórias destas e tentei perceber porque o fez. Percebi que estava numa situação de exaustão, causada pelo trabalho e por uma vida familiar apesar de feliz, muito cansativa. Perdeu-se - disse-me. Já não sabia onde estava ele, no meio daquilo tudo. Sentia-se uma peça, numa máquina. Quis perceber em que ponto estava consigo. Disse-me que se zangou com ele durante uma boa parte do percurso. Que pensou em todas as coisas que tinha perdido e que a dada altura( já a chegar ao fim) lhe apeteceu repetir de novo o caminho como se de uma penitência de tratasse,não o fez porque percebeu no meio do silêncio e de um lugar que não conhecia que a maior perda tinha sido a sua.
Ele havia perdido a sua essência, os seus sonhos e vivia o que os outros esperavam dele.
Contou-me que ficou em albergues, com estranhos, que descobriu o gosto por se levantar cedo, que perto de quem o não conhecia descobriu que gostava de rir e dizer piadas. Não voltei todo: -disse-me ele. Uma parte de mim ficou lá. Aquela parte zangada e anulada vagueia pelos caminhos à espera de perdões. Voltou o que eu consegui salvar, confessou-me. Mas esta parte regenerada nunca mais a vou perder...