Falar sem dizer
Sentaram-se os dois em frente à lareira que oferecia um calor aconchegante e efusivo. Ela com uma manta pelas costas e com uma chavena de chá de limão, nas mãos, estava calada e mordia de vez em quando os lábios. Ele pegara num livro que folheava distraidamente. Quem olhasse para aquele quadro, pensaria que estavam zangados ou que nada tinham em comum. Ainda assim estavam unidos: Ligava-os o silêncio. No seu dizer sem palavras, ela pensava que talvez o que mais admirava nele era a capacidade de lhe dizer tantas coisas em silêncio.
Uma flor que era deixada em cima da mesa, um pequeno almoço que aparecia na cama, uma mão que ela sentia nos cabelos protectora e amiga.
Para ele as palavras significavam pouco, muito pouco. Podemos dizer o que quisermos, pensava ele, fingir sentimentos com as palavras, vesti-las com bonitas cores, mas depois, como será quando é preciso mesmo demonstrar coisas?
A tarde foi passada nesse diálogo mudo, nesse gostar sem dizer e nem por um momento as palavras fizeram falta.