Fechos e começos
Ele entrou vagarosamente, arrastou a pesada cadeira de madeira e sentou-se. Pos-se a rasgar a folha de um calendário que estava em cima da bancada: era a última página(mas podia ser a primeira, ou a do meio). Passou mais um ano, pensou.
Levantou-se, os movimentos presos e demorados pareciam querer agarra-lo ao momento, aquele momento. Mas tudo tem um fim, mais tarde, mais cedo, tudo termina...
Puxou a mala que estava no cima do armário com vidros, abriu-a e colocou um relógio grande, com estrelas à volta, algumas camisolas e fechou-a. Olhou em volta, suspirou e continuou a arrastar os pés em direcção à rua. Abriu novamente a mala à procura do relógio. Está quase na hora, pensou.
Está na hora de abandonar os dias que passaram sem que se desse conta, os segundos em que via a lua e que se esquecia de quem era, os minutos em que o mar o olhava de longe. Este é o momento de deixar...
O tempo não parou, e o que foi não será o mesmo, mas em cada fecho existe a oportunidade de começar tudo de novo, de ser melhor, de ser pior, mas acima de tudo de tentar. Renovar as esperanças, acreditar nos sonhos e nunca, mas nunca desistir.
Saiu para a rua, a noite estava fria e estrelada. Ao longe ouvia-se um choro apressado e cândido, tudo nasceria(de novo).