Festejar um ano mau
Tenho o péssimo hábito de desvalorizar as mudanças e as coisas novas. As coisas "velhas", conhecidas e a que me habituo são as melhores do mundo, em detrimento das novas. Não interessa se parecem promissoras, melhores até do que as que já tenho, mas são novas, não prestam. Há pessoas que me vão conhecendo e sabendo desta minha incapacidade de aceitar a novidade adotam uma postura de Jó ou de Santo Antão e desafiam-me. A princípio digo sempre que não, mas depois acabo, com relutância, por experimentar e... gostar.
Esta questão também tem a ver com as pessoas que conheço, de novo. No início nunca quero fazer nada, olho de lado com desconfiança, mas depois acabo por aceitar a maioria das pessoas que conheço, como amigos.
O mesmo sucedeu com alguns colegas de uma aula de artes que frequentei. Eram todos de teatro, "malucos", dionisíacos e "fora da caixa". No primeiro dia a minha ideia foi: "não ponho lá mais os pés. Aulas de Artes performativas, com gente do teatro, eu não"! Mas fui indo, indo até ao final do semestre. Descobri pessoas maravilhosas. Tão maravilhosas que hoje recebi um convite, de uma delas, para o seu aniversário amanhã.
Emocionei-me. Mas a emoção não veio do convite, em si, mas a roupagem do convite. Num texto poético e leve, a A. explica que convida os amigos porque este ano reúne todas as condições para que se efective a comemoração do seu aniversário. Justifica(agora vem a parte surpreendente), que tem motivos para comemorar porque foi o pior ano da sua vida. Continua, esclarecendo que passou por um dilúvio, por dias de chuva e frio e que, ainda assim, não se afogou. Não tem motivos para estar triste e quer, com toda a força, festejar a Vida.
Amanhã, A., não estarei contigo, mas festejarei a vida e o privilégio que tive em conhecer-te.