Hoje apetece-me... escrever sobre o último conto que li
O último conto que li chama-se "A casa de Matriona" de Aleksander Solkhenitzin. A história é intensa e escrita de uma forma simples mas recheada de beleza e de suavidade.
A pergunta que se impõe é a de saber quem é Matriona. Na realidade Matriona é aquela personagem que aparentemente ninguém gosta ou melhor ela é aquela que, no fundo todos invejam e ambicionam mas para a qual não têm a coragem ou grandeza suficiente para o conseguir admitir. Quando assim é, mesmo que inconscientemente, é mais fácil mostrar desprezo, escárnio, do que valorizar o que no outro é grande e belo.
Matriona vive num Isbá, velho, onde os ratos habitam como senhores por entre as paredes forradas. As suas únicas companhias são um gato coxo, uma cabra suja e as suas plantas o único bem que lhe importou salvar quando houve um incéndio.
Não tem rendimentos e vive da solidariedade dos outros que abusam da sua forma afincada de trabalhar e dispõem dela como um objecto. Utilizam-na para trabalhos pesados e pouco lhe dão. Ela também não pede muito, talvez porque, ao contrário dos outros, não precise de muito.
O marido foi para a batalha e não voltou, ou não quis voltar, ela foi ficando, sozinha, no seu mundo. Sabe que quando precisam dela a procuram e ela vai sempre.
Um dia recebe um hospede porque todas as casas da aldeia estão ocupadas. Avisa-o, desde logo, que o melhor é procurar outro sítio porque ali não está bem. Ele fica e a pouco e pouco apercebe-se da beleza daquela mulher. Percebe que todas as coisas têm, nela, um significado profundo e que poucos alcançam.
Fica com ela até que ela morre numa linha do comboio quando tenta ajudar aqueles que a estavam a roubar e que apenas se serviam dela para atingir os seus objectivos.
Ela sabia mas não se importava, tinha aquela necessidade de receber migalhas de carinho e de dar e dar uma e outra vez sem nada pedir em troca.
Matriona era recriminada por tudo o que fazia e até porque não tinha um porco. Todas tinham um porco. Era só dar-lhe comida três vezes ao dia e depois matá-lo e fazer toucinho.
Mas como poderia Matriona matar quem ela criava e lhe fazia companhia? Mesmo sendo um porco como poderia?
Como era possivel ela trabalhar tendo como último tributo o de fazer bem aos outros?
Todas estas coisas eram incompreensiveis no entanto o conto termina com duas frases que sendo tão belas e profundas nos deixam a pensar : Tinham vivido todos a seu lado(refere-se aos vizinhos, "amigos" e família), e não haviam compreendido que ela era o Justo sem o qual, como diz o provérbio, não existe a aldeia. Nem a cidade. Nem toda a nossa terra.