Menina, gafanhoto: Descansar não é desistir
Sentou-se no chão com as costas no muro e no meio do jardim. A terra por baixo das calças azuis quase se fundia com elas, deixando a ideia que terra e menina seriam a mesma coisa. As tulipas começavam a encher o pequeno espaço de luz e de cor, mas ela não reparara. Deixou-se ficar com o tímido sol a percorrer-lhe primeiro o rosto e depois as mãos e, por mais que se esforçasse, não conseguia levantar-se. Estava cansada. Os últimos dias tinham sido particularmente difíceis e por mais que tentasse não lhe vinha ao pensamento nenhuma justificação para que se levantar e continuar.
Estava abandonada neste pensamento quando olhou para o chão e descobriu,entre um amontoado de ervas um pequeno gafanhoto verde, sozinho e apenas com uma pata. Esta imagem fez com que toda a sua atenção virasse, como um leme, para o pequeno ser. Percebeu que lhe era difícil andar e procurar comida, que tinha de defender-se dos outros gafanhotos e que, para beber uns raiozinhos de sol, tinha de esperar que quase já não houvesse sol, para não ficar demasiado exposto. Parava muito, muitas vezes, e parecia cansado. Deteve-se perto do muro, com a terra a envolver a única pata que existia e ficávamos com dúvida onde começava a pata e acabava a terra, deixando a ideia que gafanhoto e terra seriam o mesmo. Durou pouco esta paragem. Rapidamente o gafanhoto saltitou e continuou em busca de alimento; de sol, de novo com energia e resoluto. Uma coisa era descansar, (parecia dizer) outra era desistir.