Nike a Deusa que desejava competir
Nike estava sentada numa enorme laje que pendia sobre um campo de jogos. Tinha o cabelo preso numa trança e vestia uma túnica branca e leve. Nike estava triste, o seu belo rosto estava atado com laços cinza e pretos e as lágrimas caiam entre os nós dos laços.
Fiz-lhe uma festa na trança e sentei-me perto dela, em silêncio. Por vezes estar calado é a melhor maneira de ajudarmos os outros. Penso sempre que, o silêncio quando é amigo e sentido é a melhor oferta que podemos estender. Ficamos assim durante momentos a admirar o esforço dos que em baixo corriam e jogavam. O seu suor, o seu empenho e a sua luta eram comoventes. Há na competição uma disciplina e dedicação que são emocionantes. Por momentos pensei que Nike chorava por causa disso, mas na realidade Nike estava mesmo triste e enternecida, porque, tal como eu, ela admirava o esforço e a luta da competição e o que ela queria, o que ela ansiava verdadeiramente era, também ela, poder lutar, poder competir, poder ganhar ou perder.
Nike ganhara o previlégio de entregar a quem vencia a prenda da vitória, a confirmação de ser vencedor.
Mas o que era ela, realmente? Uma carregadora de medalhas e de taças, uma deusa alada que voa para entregar vitórias? Ela queria mais, desejava debater-se, reivindicar para si uma coroação do seu esforço e dedicação.
Pedi-lhe baixinho que fosse até ao campo e que corresse, corresse muito. Ela sorriu, limpou as lágrimas e os laços cinza e pretos desataram-se. Abriu as asas e nunca vi uma corrida tão bela e majestosa( fiquei com pena que só eu visse). Naquele dia, para ambas, ela foi a vitoriosa, não por ter ganho a corrida, não por ter entregue medalhas, mas porque quis correr.