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Fashion in the bag

Fashion in the bag

14
Dez16

O amor, a pena, as asas e o Rebelo

fashion

 

Acordou cedo com o ladrar chamativo do Rebelo que não parava de dar voltas sinónimo de uma urgência que a fazia, sempre, sorrir.

Vestiu umas calças justas de lycra preta e um camisolão cinzento e grosso. Não estava demasiado frio, mas gostava de sentir o conforto que a lã lhe dava quando tocava a pele. Engoliu um chá de camomila e uma torrada e encaminhou-se, com Rebelo, para uma floresta perto da sua casa.

Rebelo era branco com uma pequena mancha castanha. Era um cão enérgico, brincalhão e estava com ela há  cinco anos. Não se lembrava quando começou a amizade entre eles, mas ela podia garantir que ele sempre estivera na sua vida. Rebelo pisava as folhas com que castanheiros tinham vestido o caminho, sempre a ladrar e a abanar a cauda. De vez em quando olhava para trás, ou ia ao pé dela de forma a ganhar uma vigorosa festa no pêlo sedoso. Ao fim de algum tempo ela sentou-se na berma do caminho e o cão continuou a farejar e a saltitar, de um lado para o outro, e ao redor dela. Finalmente encontrou uma pequena abelha e começou a esticar as patas, a rosnar e assim ficou enquanto a abelha teve paciência e se manteve na brincadeira.

Ela sentada na berma sentia-se ausente, estava ali e não estava. Pensava sempre em outras coisas, em coisas que não tinha, em situações que precisava. Cruzou as pernas e colocou o queixo em cima dos joelhos acompanhando, desinteressadamente, os movimentos do Rebelo.

Lembrou-se do amigo João, de quem gostava, e tinha pena. Gostar e ter pena, murmurou. Mas gostar e ter pena é, de alguma forma, aprisionar sentimentos, pensou... Quando se gosta há penas, mas é nas asas que se ganham para voar. As penas só servem para mascarar os sentimentos, para dizer que se gosta um bocadinho, mas não se ama. O amor é um voo sem destino, mas sem penas.

Rebelo ladrou a olhar para ela numa espécie de concordância com o seu pensamento.

-De ti não tenho pena, Rebelo, disse-lhe ela, ao mesmo tempo que lhe afagava o pêlo. Tu fazes com que eu ganhe asas; tu dás-te incondicionalmente, fazes com que eu também me dê incondicionalmente.

Não há razões, não há medos, é assim....

Levantou-se e caminhou com ele ao lado.

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