O dia dos Santos..
(imagem retirada da internet, autor desconhecido)
Colocou a ponta das meias no dedos dos pés e puxou-as vagarosamente até que cobrissem as pernas, depois escolheu um vestido branco, uns brincos azuis e uns sapatos também azuis. Passou pela cozinha e bebeu, à pressa, um copo de água. Escolheu as flores com cuidado: margaridas brancas, feto verde, gipsofila, envolveu-as num papel rosa muito bonito e arrumou-as numa cestinha de verga. Sentia que as pernas lhe tremiam ligeiramente, talvez porque era um dia com significado que ela não sentia, mas que reconhecia ser importante. Começou a andar, primeiro lentamente e depois, apressadamente, até que sentiu nos pés as batidas do coração( como se pés e coração fossem apenas um). Recordou tantos dias felizes, tantas risadas, os dias em que se sentava para contar o que vivia, o que os seus dias lhe davam. Recordou-o a ele, com mãos fortes e rugosas, a voz doce e forte, a meiguice do olhar, os abraços e a beleza do seu interior.
Engoliu em seco... como tinha saudades daquele interior tão bom e forte. Virou as flores para cima e olhou-as, demoradamente, ao mesmo tempo que andava. Era uma visita sem rosto, sem cor, sem som. Era um passeio que se repetia e que conduzia a uma pedra de mármore, fria e escura. Este passeio ela não o fazia apenas uma vez por ano, como a maioria das pessoas, ela fazia-o sempre. As flores continuavam, junto com os pensamentos e as acções, a ser a única coisas que lhe podia dar. Colocou as flores e saiu com um passo rápido. Era dia dos santos....