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Fashion in the bag

Fashion in the bag

10
Out16

O mundo do outro lado do banco...

fashion

The man of soil. 1910. © August Sander

 

Arrastei os pés com dificuldade até ao banco pintado de verde. Os ossos envelhecidos por uma longa vida e por dias e dias de trabalho rangeram quando tentei sentar-me, mas fi-lo e senti-me bem com isso, um misto de independência e de auto-convencimento de que afinal ainda sou capaz, que ainda conservo a independência e a lucidez que sempre tive.

- Nada mudou, sussurro para mim.

No fundo sei, sabemos sempre, que não é assim e que cada dia que passa tudo muda e nunca sabemos bem do que somos, ou não somos, capazes. 

Diante de mim uma moça jovem;  com cabelos ruivos e olhos azuis sorria para um bebé, que tinha no colo. O quadro era surpreendente, não pela ternura presente à volta deles, mas porque eu me senti muito perto deles, como se eu fizesse parte daquele mundo que estava do outro lado do banco. Há sempre outros mundos do outro lado daquele em que estamos e nem sempre conseguimos vê-los, mas aquele eu via claramente, naquele eu estava. Passei tempo a olha-los, talvez os olhasse desde sempre...

Eu e as dores que me percorriam ficamos todos neste acompanhamento silencioso e presente. Senti fome, não tinha nada que pudesse comer,  além disso o que comia, fazia-me mal. Deixei-me estar. Não sei precisar o tempo que estive, porque na minha idade não há minutos, nem horas, existe apenas um semi- tempo que se esvai, indissociável com a vida. O fim da tarde fazia-se anunciar com a quebra de luz,  eu já não me mexia, eles também não. Estávamos unidos, por um fio invisível, que jamais se quebraria. Eles eram meus, como sangue e ar e eu era deles, da mesma forma. Quando me encontraram; no banco, tinha, no meu colo, uma pequena imagem de uma moça jovem e bonita de olhos azuis, com um bebé ao colo. Um mundo do outro lado do banco que era tanto o meu mundo....

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