O Outono, a espera e a perda da felicidade
O Outono chegou anunciado pelas folhas amarelas, pelo Sol envergonhado e pelo vento que se agitava de manhã. Vestiu as calças que mais gostava, uma camisa branca e uns brincos da mesma cor. Olhou-se ao espelho, passou a escova pelo longo cabelo e sentou-se à espera. Convenceu-se que a felicidade chegaria quando o Outono viesse. Escolheu a roupa cuidadosamente, animou-se e esperou.
Ao seu redor as árvores vestiam-se de flores, os pássaros dançavam, a neve vestia a janela de branco, tal qual uma noiva e ela nada via ou sentia. Sentada,esperava e perdia, todos os dias perdia.
A espera durou vários anos sem que ela se movesse ou trocasse de roupa. Chegou um tempo em que se apercebeu de que já não conseguia mexer-se e tudo em si estava transformado. Olhou ao redor e não lhe ocorreu a razão porque tinha estado tanto tempo ali. Tentou levantar-se para observar uma joaninha que pousara no parapeito, mas não conseguiu, empenhou-se em sentir se era noite ou dia, mas era tudo tão igual que não percebia a diferença.
Um dia, daqueles dia em que no céu se arrumam as cadeiras, ela caiu no chão: a espera tinha acabado. Era Inverno, e ela tinha perdido a felicidade, sem nunca perceber que a tinha encontrado...