O seu eu que era tão seu
(imagem retirada da net)
Ficou encostada à parede da sala, com a face colada no vidro. Gostava daquela sensação de frio sobre a pele. Do outro lado ouvia as palavras dele. Queria apenas um abraço, pensava. Não sabia já o que ele dizia, perdeu-se naquele complexo fio de palavras. Ela estava longe ou perto? Se alguém a visse não saberia dizer. O olhar perdido no que estava para além do vidro, o silêncio da escuta das palavras dos outros e ela não estava lá.
Onde ela estava não entrava ninguém, há muito que o tinha decidido. Lá não existiam julgamentos e nem culpas. Permitia-se ser quem quisesse. Passeava por entre as flores e sentia as agulhas dos pinheiros a picar-lhe a pele, não se importava. Ali sorria e cantava, sim ela cantava. Ás vezes canções simples com letras infantis, outras pequenos trechos de complexas sonatas. Fugia sempre, melhor o seu pensamento fugia, de cada vez que tinha de sair daquele seu eu, que era tão seu. As palavras voltaram, tirou a face do vidro, estava de volta.