O vento, os papelinhos e o Futebol
Adoro quando o vento me bate na janela e me pede para entrar. Gosto tanto de vento no final da tarde. Sinto que o vento é uma espécie de pombo-correio, estou sempre à espera de mensagens, de papelinhos mágicos que ele há-de trazer enrolados nos seus suspiros...
Perante este vento que me visitou, ontem, não pude deixar de sentir os olhos enevoados quando liguei a televisão e vi a Praça do Comércio vestida de humanos; tantos humanos a cantar em uníssono a nossa canção, a canção de Portugal. Por um instante senti orgulho para rapidamente esmorecer.
Claro que é importante o futebol, as causas comuns, o que quer que seja em que estejamos unidos, mas temos tantas coisas em que podíamos fazer o mesmo. Milhares de coisas onde se nos uníssemos, da mesma maneira, faríamos tanto. Temos dos melhores investigadores do mundo, bons escritores, poetas, médicos, arquitectos somos simpáticos, desenrascados e se quiséssemos seriamos os melhores em tantas outras coisas.
É importante que comecemos a acreditar e a gostar em outras coisas para além do futebol, temos de deixar de seguir apenas o óbvio. Urge acreditar que somos um país com pessoas boas e de causas e que se tivéssemos verdadeiro interesse podíamos fazer tantas e tantas coisas e encher tantas e tantas praças...
Gosto quando o vento me dá, escrito nos papelinhos, a esperança de que um dia as coisas hão-de mudar...